Aos marinheiros de primeira viagem...

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TC Muniz Relvas

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sábado, 14 de abril de 2007

Ascensão (dos pequenos) e queda (dos grandes)

Vendo este título, alguém poderia facilmente pensar que se falará de fenômenos como, por exemplo, o Campeonato Carioca, que vem assistindo continuamente à presença de equipes pequenas nas suas fases decisivas. Contudo, aqui o conceito de clube grande e clube pequeno é outro, estritamente regional. Falaremos aqui de equipes de grandeza e hegemonia regionais, nada comparado a um Flamengo, Palmeiras ou Atlético, para ficar só nestes três. Mais exatamente, levantaremos as situações atuais destes e de pequenos intrusos que vêm roubando seu espaço nos cenários estaduais.

Caso número 1: Triângulo Mineiro

O Triângulo Mineiro, região cada vez mais rica do Estado de Minas Gerais, tem três equipes de grande tradição regional, em que pese nenhuma delas jamais ter amealhado uma taça de campeão mineiro. Dois deles, o Uberlândia Esporte Clube e o Uberaba Sport Club, ocupam, respectivamente, a quarta e quinta posições do ranking da CBF, contando apenas as equipes mineiras, motivo pelo qual o Verdão está incluído entre as equipes do Estado a serem beneficiadas com a Timemania. O Colorado, entretanto, foi preterido por motivos desconhecidos para o Villa Nova, mas isto são outros quinhentos. A outra equipe de tradição na região é o Nacional Futebol Clube, de Uberaba.

Estas três equipes passaram os últimos 15 anos atuando como verdadeiras sanfonas a nível estadual, alternando temporadas no Módulo II e momentos de destaque no módulo I e até no Campeonato Brasileiro - na confusa e homérica Copa João Havelange, em 2000, o Verdão faturou a taça do módulo que leva a sua cor e por muito pouco não avançou às oitavas-de-final da competição, eliminado que foi pelo extinto Malutrom - atual J. Malucelli. O Nacional está ainda pior, oscilando entre o Módulo II e a Segunda Divisão estaduais.

É neste cenário que, atônitos, o trio de ferro do Triângulo viu a aparição e ascenção de um intruso: trata-se do Ituiutaba Esporte Clube, a Coruja do Pontal, que jogou as edições de 2003, 2005 e 2006 da Série C nacional, tendo conquistado seus acessos estaduais em 1998, quando o Ipatinga - ele mesmo - venceu a Segunda Divisão, através da desistência de outras equipes, e em 2004, campeã que foi do Módulo II. É interessante notar que desde 2002 o Ituiutaba tinha a companhia de um rival da cidade e de bairro, a Associação Esportiva Ituiutabana, que em 2002 e 2003 não passou da primeira fase e em 2004 alcançou o hexagonal final junto com o Ituiutaba, mas desistiu de jogar o hexagonal alegando abandono de patrocínio das empresas e da prefeitura - suspeito que estes tenham preferido “concentrar esforços” no Ituiutaba, o que, afinal, deu certo. Daí em diante, o Boa (apelido derivado do antigo nome do clube, Boa Vontade) colecionou sucessos consideráveis para um novato no Módulo I: sempre batia na trave e não passava às semifinais, mas garantiu vagas para a série C nos dois primeiros anos de primeira divisão, obtendo alguns triunfos sobre equipes de Minas e do interior paulista, mas nunca avançava muitas fases na competição. Ainda assim, mais do que o Verdão e o Zebu, que há tempos não sabem o que é uma competição nacional.

Antes da Coruja, apenas a União Tijucana de Esportes, em 1976, havia representado Ituiutaba na primeira divisão estadual, mas num campeonato que tinha tantos times (vinte e três) que sua presença não foi exatamente percebida, e o Triângulo, além da União Tijucana, tinha Araguari e Fluminense (Araguari), Arsenal e 13 de Maio (Frutal), Nacional e Uberaba (Uberaba) e Uberlândia na primeira divisão, num total de 8 equipes, sendo que, de todos, apenas Uberaba e Uberlândia sobreviveram ao enxugamento do campeonato, que reuniu 12 equipes em 1977.

Caso número 2: grande Ribeirão Preto

Se o Triângulo Mineiro é uma região rica, o que dizer de Ribeirão Preto, com sua agropecuária, agroindústria e instituições acadêmicas de destaque. Aqui há duas equipes que fazem um clássico de grande tradição: Comercial Futebol Clube e Botafogo Futebol Clube. O Comercial experimenta um período maior de relativo ostracismo, visto que participou pela última vez da divisão principal em 1986. O Botafogo, contudo, experimentou grande sucesso no início do milênio, tendo sido vice-campeão da Série B em 1999 e vice-campeão paulista em 2001, num time que tinha como destaques jogadores como Doni, hoje na Roma, e Cicinho, do Real Madrid.

Logo após cair para a segunda divisão nacional, em 2001, a Pantera da Mogiana sofreu uma queda meteórica. Caiu para a série C em 2002, para a série A2 paulista em 2003 e para a série A3 paulista em 2005. No ano seguinte, recuperou-se e voltou à Série A2, e hoje luta para subir de volta à série A1. Já o Comercial não se mexeu da Série A2 desde sua criação em 1994, embora tenha sido rebaixado em 2001 e posteriormente salvo pela Liga Rio-São Paulo e seu efeito cascata, que resgatou mais equipes da série A2 e salvou o Comercial do rebaixamento.

Neste meio tempo, outra equipe da região de Ribeirão Preto conquistava gradualmente seus acessos nas divisões inferiores. Depois de um longo período fora do futebol profissional, o Sertãozinho Futebol Clube retornou em 1998 na Série B1-B (quinta divisão) paulista, conquistando o terceiro lugar e o acesso para a quarta divisão de 1999 (série B1-A). Os outros acessos foram em 2001 (para a série A-3), em 2003 (para a série A-2) e em 2006 (para a série A-1). Neste ano salvou-se do rebaixamento na última rodada, contudo ainda assim deverá assegurar vaga na série C. Um fato histórico e surpreendente para uma equipe que não tinha no futebol seu principal expoente, senão no hóquei sobre patins, esporte onde o clube tem vários rivais e onde a cidade reina absoluta no cenário nacional. Prova disso é a média de público do Touro dos Canaviais na competição, de 4.755 pagantes, atrás somente dos quatro grandes clubes do Estado.

O Sertãozinho é a primeira equipe da cidade a figurar na divisão principal do futebol paulista.

Caso número 3: Vale do Paraíba paulista

Esta região do Brasil destaca-se pelo aspecto turístico religioso, onde a cidade de Aparecida age como pólo atrativo de milhares de católicos a cada ano, e por sediar importantes pontos de indústria aeronáutica, sobretudo em São José dos Campos. A região tem como equipes tradicionais o Esporte São José, antigo São José Esporte Clube, e o Esporte Clube Taubaté.

Ambos tiveram e estão tendo problemas recentes com terceirização do departamento de futebol, como aconteceu com a União Barbarense em Santa Bárbara d’Oeste. O São José Esporte Clube caiu da série A-2 para a A-3 em 2004, trocando então de nome para Esporte São José. Dois anos depois retornaram como vice-campeões à série A-2, perdendo para o supracitado Botafogo na finalíssima, e hoje brigam pelo acesso à série A-1 no quadrangular semifinal junto com os tradicionalíssimos Guarani e Ponte Preta, além do Bandeirante. O caso do Taubaté é mais grave, pois está vivendo seu ponto mais crítico hoje, tendo sido o lanterna deste ano na série A-2 e vendo seu contrato de terceirização acabar apenas em 2010, sem perspectivas de melhora imediata.

Impotentes, a Águia do Vale e o Burro da Central viram a explosão de uma surpresa vinda de uma cidade vizinha de Aparecida: o Guaratinguetá Futebol Ltda., antigo Guaratinguetá Esporte Clube. A Garça conquistou seu primeiro acesso em 2001, sendo terceira colocada da série B-2 e logo no ano seguinte foi vice-campeã da série B-1. Seus outros acessos se deram em 2004, terceira colocada da série A-3, e em 2006, quarta colocada da série A-2. Obteve extremo sucesso em sua primeira temporada na série A-1 paulista e classificou-se para as semifinais do Campeonato do Interior com o 10º lugar na classificação geral, e lutará com o Paulista de Jundiaí por uma vaga na final do interior.

Antes do Guaratinguetá, o último representante da cidade na divisão principal de São Paulo foi a Associação Esportiva Guaratinguetá, em 1964.

Conclusão

O Vale do Paraíba viu dois exemplos de terceirização mal-feita e um de terceirização com sucesso de departamentos de futebol de seus clubes, e os dois mais tradicionais da região ainda estão assimilando o golpe. Os clubes de Ribeirão Preto, sobretudo o Botafogo, também estão assimilando o golpe que foi ver a equipe de Sertãozinho subir à série A1. No Triângulo, Uberaba e Uberlândia já voltam a se destacar no cenário estadual - o Uberaba foi finalista da Taça Minas Gerais em 2006 e o Uberlândia Esporte tem tudo para voltar ao Módulo I, obtendo uma excelente média de público em seus jogos, equivalente às maiores do interior mineiro do módulo I. São exemplos vivos de que, se os rivais não se ajudam e não se promovem, é somente através de iniciativas regionais em cidades menores que estes grandes clubes encontram a motivação e força para se reerguerem.

Vítor Rodrigo Dias

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