Futebol feminino, "preconceito", idéias prontas
O Sportv transmite nesse exato momento uma partida da Liga Nacional de futebol feminino. Você sabia que esse campeonato estava acontecendo? Se você não for um aficcionado por futebol, provavelmente sua resposta será não.
O campeonato é estranho, disputado em poucas cidades, tem baixa repercussão da imprensa - enfim, caminha pra ser mais um fracasso na história do futebol feminino do Brasil.
Quando se fala sobre o futebol feminino, algumas idéias prontas costumam tomar conta do debate. Sempre - eu disse sempre - um comentarista toma a palavra e adota uma postura de paladino da moralidade e desfila chavões, dizendo que o Brasil não sabe respeitar os seus esportistas, que é um absurdo o país não dar o apoio adequado ao futebol feminino, e invariavelmente acaba falando que a razão pelo futebol feminino não emplacar é o preconceito.
Existe preconceito contra o futebol feminino no Brasil? Existe, não podemos ser ingênuos e achar que de um dia pra noite um machismo de mais de 50 anos deixou de existir. Mas a situação atual é bem distante da de anos atrás. A seleção é a atual vice-campeã olímpica e Marta é a melhor jogadora do mundo, eleita pela FIFA. Tudo isso teve a devida repercussão dos veículos midiáticos.
E mais do que isso, o cenário para o futebol feminino hoje é diferente no referente à prática do esporte. A maioria dos escritores desse blog é mais nova que eu - acho que só o Bindi veio ao mundo antes de mim - então possivelmente vocês não são de um tempo de que menina jogar bola era errado. Ou errado ou algo encarado como curiosidade, brincadeira. Nunca como um esporte de verdade.
Hoje, nas escolas, as meninas jogam bola desde cedo. Não estou falando daquela bobagem de colocar meninas para competir com meninos e falar de algumas meninas-fenômeno que sempre aparecem por aí. Mas é de encarar o futebol como um esporte como qualquer outro, em que meninas jogam entre si, disputam competições e tal.
Esse cenário já existe hoje. Repito: com preconceito, mas numa escala bem menor que a de 10, 15 anos atrás.
Ao meu ver, o futebol feminino não emplaca no Brasil por razões puramente empresariais. Sabemos que nosso tradicional futebol masculino, com clubes fortíssimos e os melhores jogadores do mundo, é pessimamente administrado e tem um campeonato muito aquém de seu real potencial. Então porque o futebol feminino seria um exemplo de administração?
Não esqueçamos que o futebol é um esporte caro, com jogos longos e com apenas um intervalo - o que dificulta a aparição da publicidade. Até arrisco a dizer que se o futebol masculino não fosse o monstro que é, ele já teria se enterrado por conta própria.
Enfim, celebremos essa estranha Liga criada pela CBF. Quem sabe vira alguma coisa?
- Olavo Soares
Um comentário:
Concordo plenamente com você, Olavo. Precisamos primeiro arrumas as coisas no masculino pra pensar no feminino (até porque a administração dos dois é uma porcaria).
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